mergulhem-se

domingo, 26 de dezembro de 2010

À Beleza - Miguel Torga

Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.

És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.

És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.

És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.

És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Eternidade inútil - Cecília Meireles, poema...

Até morrer estarei enamorada
de coisas impossíveis:

tudo que invento, apenas,
e dura menos que eu,
que chega e passa.

Não chorarei minha triste brevidade
unicamente a alheia,
a esperança plantada em tristes dunas,
em vento, em nuvens, n'água.

A pronta decadência,
a fuga súbita
de cada coisa amada.

O amor sozinho vagava.
Sem mais nada além de mim...
numa eternidade inútil.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Vida e Tempo, Viviane Mosé

acho que a vida anda passando a mão em mim
a vida anda passando a mão em mim
acho que a vida anda passando
a vida anda passando
acho que a vida anda
a vida anda em mim
acho que há vida em mim
a vida em mim anda passando
acho que a vida anda passando a mão em mim


e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás

um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos

acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Pausa para comentário:

Pequena licença para citar o "História social do Jazz" do Hobsbawm. Prefácio do Veríssimo. Para ler com tempo e o ouvido atento. Pesquisa. Cada citação é importante. Escutar todas. Fanatismo mesmo. Escute e escute outra vez. É também literatura, música. Bom. Recomendo o Whisky, mas seria parcial demais. Óbvio talvez, ou tolo. Ainda não acabei de ler. Tavez não acabe nunca. Mas voltarei para cá logo; entre uma página e outra leio uma poesia, quem sabe um romance. Indicações aí na caixa de comentários são bem-vindas. Quero ler tudo que faça bem - que faça mal também, mas estes leio em poucos momentos.

Beijos,

Julia.