mergulhem-se

domingo, 20 de janeiro de 2008

Poeta Marginal? Eu, Hein? - Nicolas Behr

"não nasci em montes claros. não tenho nome completo. não sou professor. não consegui conciliar nada com a literatura. nunca publiquei nada. atualmente não resido em porto alegre. não me chamo eduardo veiga. não escrevo poesoa há mais de quinze anos. não estou organizando meu primeiro livro. nem o segundo. não sou graduado em letras. não acredito que a poesia seja necessária. não estou concluindo nenhum curso de pedagogia. não colaboro em nenhum suplemento literário. não estou presente em todos movimentos culturais da minha terra. não sou membro da academia goiana de letras. não trabalho como assessor cultural na secretaria da cultura. meus pais não foram ligados ao cinema. não tenho tema preferido. não comecei a fazer teatro aos doze anos. não me especializei em literatura hispano-americana. não tenho crônicas publicas n'o república de lisboa. não passei minha infância em pindamonhangaba. não canto a esperança. não cometi suicídio aos vinte e dois anos. não recebi nenhuma premiação em concurso de prosa e poesia. não tenho sete livros inéditos. não sou considerado um dos maiores poetas brasileiros. nunca fui convidado para dar palestras em universidades. não vejo poesia em tudo. não faço parte do grupo noigrandes. não me interesso por literatura infantil. não sou casado com o poeta affonso ávila. na minha estréia não recebi o prêmio estadual da poesia. o crítico joão batista nunca disse nada a meu respeito. não sofri influência de bilac. não sou ativo. nem dinâmico. não me dedico com afinco à pecuária. não sou portador de vasto curriculum. não recebio mensão honrosa no concurso de poesia ferreia gullar. não exerço nenhuma atividade docente. nem decente. não iniciei minha carreira literária no exército. não fui a primeira mulher eleita para a academia acreana de letras. não tenho poemas traduzidos para o francês. não estou incluído numa antologia a ser publicada no méxico. minha poesia não é corajosa. não gosto de arqueologia. walmir ayala nunca me considerou um revolucionário. nunca tentei compreender o homem na sua totalidade. não vim para o brasil com cinco anos de idade. não aprendi russo para ler maiakowski. meu pai não é chileno. não sou virgem. sou capricórnio. não sou mãe de dois filhos. nunca escrevi contos. não me responsabilizo pelos poemas que assino. não sou irônico. não considero drummond o maior poeta da língua portuguesa. não gosto de andar de bicicleta. não sou chato. não sei em que ano aconteceu a semana de vinte e dois. não imito ninguém. não gosto de rock. não sou nem quero ser crítico literário. nunca me elogiaram. nunca me acusaram de plágio. não te amo mais. minha poesia nunca veiculou nada. não sei o que vocês querem de mim. não espero publicar nenhum romance. não sou lírico. não tenho fogo. não escrevi isto que vocês estão lendo.

brasília, 1980"